Como organizar a inevitável expansão da ocupação humana de modo a preservar as condições básicas que viabilizam não só esta ocupação mas a sobrevivência e o bem-estar da sociedade como um todo, a médio e longo prazos? 

Para oferecer respostas a este desafio, um grupo transdisciplinar de pesquisadores da Universidade de Brasília vem desenvolvendo, desde 2008, estudos e proposições baseadas no conceito de cidades sensíveis à água e de ecossistemas urbanos e rurais, balizadas pelo pilar da sustentabilidade.  

Coordenado pela professora Liza Maria Souza de Andrade, o Grupo de Pesquisa Água  e Ambiente Construído, integrante do do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, iniciou seus trabalhos analisando a implementação da Etapa 1 do Setor Habitacional Taquari.

Após quase 15 anos de imersão na Serrinha do Paranoá, o grupo avançou do conceito de cidades sensíveis à água para o de ¨território sensível à água¨, que tem como base a luta pela regularização fundiária, o direito e a apropriação do território em função das necessidade humanas, da capacidade ecossistêmica de suporte e do equilíbrio dinâmico dos processos naturais.

Recentemente Brasília enfrentou severa crise hídrica, administrada por meio de racionamento prolongado. Embora seja uma importante fonte de água para a cidade,  comportando mais de cem nascentes mapeadas, a Serrinha do Paranoá vem sofrendo forte ameaças por conta da especulação imobiliária voraz e de maciços projetos de infraestrutura baseados em estudos ultrapassados, concebidos em um contexto alheio à crise hídrica e ao aquecimento global. 

Caderno traz compilação de estudos

O grupo de pesquisa Água e Ambiente Construído publicou neste mês de junho o caderno Serrinha do Paranoá Sensível à Água. Organizado por Liza Maria Souza de Andrade, Natália da Silva Lemos e Samuel da Cruz Prates, a publicação apresenta uma sistematização das pesquisas desenvolvidas pelo grupo no âmbito da pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), da graduação, da iniciação científica e da extensão universitária. 

A publicação do caderno integra o projeto  Brasília Sensível à Água, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), que propõe aplicação piloto na expansão urbana da Serrinha do Paranoá sob a ótica dos padrões da infraestrutura ecológica integrados aos padrões de inclusão social a partir de soluções baseadas na natureza.

Segundo a publicação, a Serrinha do Paranoá, um dos estudos de caso do projeto, foi escolhida por ser uma área ambientalmente sensível, produtora de água, e alvo da especulação imobiliária, com previsão de expansão urbana no Setor Habitacional Taquari. 

A característica predominante da região, ainda segundo os estudos, é a sua sensibilidade hídrica, por abrigar vários cursos d’água e nascentes que abastecem o Lago Paranoá. “É uma região que abriga uma ‘comunidade sensível à água’, composta por associações comunitárias, movimentos sociais e entidades ambientalistas”, explicam os autores.  

O caderno apresenta a comunidade que vive na Serrinha do Paranoá como defensora da preservação da paisagem, do patrimônio ambiental e cultural, com a aplicação de padrões urbanos mais sustentáveis na região, que considera a regularização dos núcleos rurais existentes como proposta contrária à de parcelamentos urbanos inadequados. 

Ao propor um modelo de ocupação baseado na realidade atual da Serrinha do Paranoá, o grupo propõe a abordagem do design rural, por trazer para o parcelamento do solo a conexão entre o rural e o urbano, com arranjos espaciais de configuração das paisagens humana, rural e natural que incorporam a agricultura na cidade e no campo. Segundo o estudo, a metodologia do design rural consiste em um processo de desenho que é fundamentalmente diferente do desenho urbano, por compreender o modo com que as características da paisagem e do ecossistema condicionam a infraestrutura.

> Para baixar: Caderno Serrinha do Paranoá Sensível à Água

> Para acompanhar os trabalhos do Grupo de Pesquisa Água  e Ambiente Construído: http://brasiliasensivelaagua.unb.br